Beleza: Principal ou fundamental?

O poeta já dizia “a beleza é fundamental”. Concordo (em parte), mas penso que nós mulheres não devemos tomar isso como obrigação e muito menos como fardo. Me chamo Angélica Goiana e curtam meu primeiro texto no Reflexões Rmm.

Depois de um dia exaustivo de trabalho, chego à faculdade pensando nas milhares de coisas que tenho de resolver antes do dia findar. Bem, pelo menos antes que dê meia-noite. Mas confesso: a única coisa que não pensei foi no bendito batom que havia esquecido de retocar. E não só ele, mas todo o make.

O elevador chega e a primeira coisa que ouço é “Vou colocar um batonzinho pra ficar com cara de gente”. E isso soa como uma pancada na minha cabeça, pois quando olho no espelho à minha frente vejo-me sem batom, sem nada. Enxergo só um rosto limpo de uma mulher de trinta e poucos anos.

A moça sai do elevador sentindo-se uma modelo esvoaçante, igualzinha aquelas dos anúncios de TV. Na mesma hora comento com outra do lado “depende do que é ser gente pra ela”. E a mesma sorri concordando.

Na sala de aula, chego sem o tal retoque. No entanto, sinto-me livre e mais gente do que nunca, pois, mesmo sem o “make nosso de cada dia”, continuo sabendo exatamente quem sou e o que quero da vida.

Assim como a maioria das mulheres, tenho uma necessaire com todos aqueles produtos maravilhosos que nos fazem “virar princesas” em dois segundos. Mas tenho também a  liberdade para optar se quero ficar de cara lavada, com meus primeiros sinais de expressão à amostra, ou não.

Nós mulheres somos bombardeadas por todos os lados que devemos “ter” para “ser”. Normal nos dias contemporâneos, onde a imagem é tudo. Atualmente não somos mais só receptoras de imagens como nossas mães e avós eram, agora somos emissoras de belas imagens. Nos produzimos para “reproduzirmos” a imagem que vai ser mostrada nas redes sociais, no ônibus, na faculdade, no trabalho... Enfim, em todos os lugares que nos rodeiam.

O poeta já dizia “a beleza é fundamental”. Concordo (em parte), mas penso que não devemos tomar isso como obrigação e muito menos como fardo. Posso estar equivocada ao pensar que ainda não nos livramos dos espartilhos do século XVI, com suas  barbatanas metálicas e amarrações nas costas. A meu ver ele só mudou de formato, passou do físico para o psicológico. Prova disso é ver mulheres com dedos machucados por um scarpim, ou morrendo pelas complicações causadas por cirurgias plásticas mal realizadas.

Somos seres humanos antes de sermos definidas como gênero feminino. Todas nós possuímos vontades, desejos e milhares de outras coisas que nos fazem seres humanos, assim como milhares de outras que nos fazem mulheres. Desde os tempos mais remotos ou nos classificam, ou utilizam estereótipos para nos definirem. O pior é que agora,  nós mesmas, somos nossas algozes, pois nos pressionamos a todo momento. Em nossas cabecinhas, pensamos que devemos trabalhar, estudar, ser mãe e mulher. Devemos acordar como as moças dos filmes com bochechas rosadas, ou devemos ter uma família que nem aquelas dos comerciais de margarina e até ter cabelos maravilhosos e esvoaçantes. Ainda temos que saber como anda a cotação monetária, onde está a meia do filho mais velho, a gravata do marido e aquele relatório, já enviado mil vezes para a chefe, mas que ela insiste em dizer que não chegou à caixa de e-mail.

Bom, em alguns casos não podemos nem chorar, porque temos que aguentar a pressão do mundo e de nós mesmas. Já ouvi alguém dizer “Não foi isso que vocês mulheres procuraram” ou outras pérolas como “Não devia chorar como uma fraca... Uma mulher tão inteligente, tão forte!”, arghh! Quanta bobagem...

Muitas coisas mudaram no mundo feminino, mas penso honestamente que muitas coisas ainda continuam como no tempo de nossas bisavós. A solução ainda não temos, mas, para que o mundo encare a mulher como um ser e não somente como um gênero, terão de existir muitas Fridas Kaklo, muitas Chiquinhas Gonzagas, muitas Leilas Diniz, muitas Joanas D’arc e muitas, muitas Marias, Jacquelines, Flávias, Mireles, Germânias, Floras, Hebes...

Colunista Rmm: Angélica Goiana

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